Salvaguardamos a memória? Preservação e manutenção de edifícios históricos
Para dar o pontapé na nossa coluna sobre Arquitetura, vamos abordar discorrer sobre o meio ambiente, mas não no sentido como estamos acostumados a ver, e sim falaremos sobre o meio ambiente construído/físico, no caso sobre as obras arquitetônicas.
Vamos abrir este espaço com uma discussão sobre a preservação e a manutenção das edificações que compõem esse ambiente, um tema atualíssimo e que requer um amplo debate: os incêndios em patrimônios edificados como nos casos do Museu Nacional do Rio de Janeiro e da Catedral de Notre Dame em Paris.
Não é de hoje que monumentos à memória são alvos de “acidentes”, alguns casos são bem famosos e de conhecimento público, como o incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o incêndio da cidade de Chicago (EUA) que deu origem a uma vertente da arquitetura moderna conhecida como a Escola de Chicago, e do prédio da antiga Assembléia Legislativa em Palmas – TO, até os famosos e mais recentes casos do Museu e da Catedral, mencionados anteriormente; todos estes apresentam alguma similaridade: a falta de preocupação com a manutenção e conservação desses objetos arquitetônicos que compõem os espaços.
Todos esses casos partem do princípio básico de Proteção dos Sistemas de Combate a Incêndio – SCI, o que reflete diretamente nos projetos e em suas concepções. No que tange aos profissionais de Arquitetura e Urbanismo, que são os responsáveis por realizar um projeto pensando nas concepções plásticas e funcionais aliadas às questões dos SCI, Braga (2018, pg. 54) destaca que “A formação dos arquitetos no Brasil tem dado pouca ênfase para a SCI nas edificações, e isso tem levado a práticas com baixa exigência em relação ao controle do risco de incêndio”. Ou seja, pode-se dizer que sim, temos uma preocupação plástica e não no atemos às questões de SCI nos projetos, e nem como eles irão funcionar em caso de incêndio o que deveria refletir na forma e na mudança de postura ao projetar desde a baixa complexidade, como casas, até a alta complexidade arquitetônica (aeroportos e hospitais).
Além dos elementos aqui elencados, percebe-se ainda um descaso com o patrimônio, descaso esse que ficou evidente no caso do incêndio no Museu Nacional, onde pouquíssimos objetos se salvaram. Embora muitas partes dos elementos ali expostos tratarem-se de documentos oficiais, objetos de grande valor histórico e documental, além de serem resultados de pesquisas com vistas a salvaguardar e proteger a memória brasileira.
Não obstante, o incêndio em Notre Dame queimou o pináculo desenvolvido por Viollet Le Duc, além da perda dos vitrais e da cobertura que estavam em manutenção. A catedral, por ser um monumento amplamente difundido, apresentado no livro de Victor Hugo e no desenho “O corcunda de Notre Dame” da Disney, bem como em toda a programação visual do jogo “Assassin’s Creed Unity”, foi parcialmente consumida pelas chamas.
Contudo, há um contraponto extremamente cruel, enquanto na igreja de Paris boa parte dos elementos foram amplamente pesquisados, virando jogos e sendo reproduzidos com detalhamento extraordinários ao redor do mundo, o museu do Rio de Janeiro não teve a mesma sorte, e as labaredas consumiram recheado com documentos, objetos e peças de um mosaico que compõem a história do País, com perdas irreparáveis para a arquitetura, para a ciência e para a educação brasileiras.
Que sorte a nossa! Enquanto em Paris a obra recebeu doações milionárias e proposta de restauração completa em 05 anos, no caso do Rio de Janeiro, espera-se ainda a liberação de recursos para a reforma.
Mas isto são outros assuntos! No mais, até a próxima com novas reflexões sobre o papel da arquitetura!
Até lá!