Investimentos de impacto em biodiversidade e conservação na América Latina chegam a US$ 13 milhões, diz relatório
Total representa 2% dos aportes desse tipo feitos na região. Tendências para os negócios de impacto socioambiental positivo envolvem áreas como agricultura sustentável, gestão de cadeias produtivas e manejo florestal de produtos não madeireiros.
Um levantamento feito junto a 83 investidores de impacto com gestão de US$ 606 milhões em ativos direcionados à América Latina identificou que, desse montante, US$ 13 milhões foram aportados em operações nas áreas de biodiversidade e conservação de ecossistemas nos anos de 2018 e 2019. Os dados são do relatório “Investimentos de Impacto na América Latina: Tendências 2018 e 2019”, feito pela Aspen Network of Development Entrepreneurs (ANDE) com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
De acordo com o estudo, o montante de US$ 13 milhões, originado de apenas cinco investidores, foi aplicado em um total de 29 operações de biodiversidade e conservação ao longo do biênio. A avaliação de que a área tem potencial para crescer e receber mais investimentos é reforçada pelo fato de 30% dos investidores entrevistados terem relatado essa como uma área prioritária, ainda que dois terços deles não tenham feito nenhuma operação com empresas do setor durante o período.
O resultado indica um avanço dos investimentos neste setor em relação ao estudo anterior. De 2016 e 2017, a análise conduzida com 67 entrevistados indicou que haviam sido investidos US$ 5 milhões em oito operações preocupadas em gerar impacto positivo ao meio ambiente.
“Os negócios de impacto têm uma capacidade única de transformar realidade e promover a sustentabilidade em seus três grandes eixos: economia, sociedade e meio ambiente. Há uma onda crescente de aportes em direção a empreendimentos de impacto e, considerando que o Brasil é o país com maior biodiversidade do mundo e também um dos mais desiguais, temos aqui diversas oportunidades de negócio que carecem de investimento”, comenta o coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, Guilherme Karam.
O estudo da ANDE aponta que a maior parte dos investidores com foco em biodiversidade e conservação de ecossistemas tem interesse específico no segmento de agricultura sustentável, seguido por gestão de cadeias produtivas e manejo florestal sustentável de produtos não madeireiros.
Um exemplo de ação que busca contribuir com o fortalecimento de negócios com impacto positivo em conservação da natureza é o Programa Natureza Empreendedora, da Fundação Grupo Boticário, que tem suas ações direcionadas à Grande Reserva Mata Atlântica – o último grande remanescente contínuo do bioma e com uma área de 1,8 milhão de hectares de floresta. A entidade também lançou neste ano o 1º Mapa de Empreendedorismo Sustentável na Grande Reserva Mata Atlântica; o Conservathon: maratona de ideação pela natureza; e a chamada da “teia de soluções” – todas com o objetivo de aliar a conservação do meio ambiente com a geração de negócios de impacto financeiramente sustentáveis.
Brasil
Ainda de acordo com o relatório da ANDE, os investidores de impacto com recursos destinados à América Latina estão ativamente identificando alternativas de retorno financeiro que protejam, em vez de degradarem, os recursos naturais da região, especialmente preocupados com a questão do desmatamento.
O documento destaca também o baixo investimento nos segmentos de proteção de bacias hidrográficas na região, indicando que essa é uma área que precisa de mais atenção.
A publicação traz um capítulo destinado ao Brasil, do qual participaram 34 investidores de impacto com ativos sob gestão no país. Desses, 23 estão sediados em território nacional, enquanto 11 são estrangeiros.
Além disso, 28 investidores informaram números referentes aos ativos no Brasil. Com base nessa amostra, foi possível identificar que 28% dos investimentos no país são destinados ao setor de manufatura, seguido por agricultura e alimentos (13%), saúde (11%) e instituições de ciência e tecnologia (6%). O setor de biodiversidade e conservação de ecossistemas tem apenas 1%, na décima colocação.
No recorte por operações individuais, 23 investidores compartilharam informações realizadas em empresas brasileiras no período de 2018-2019. Ao todo, foram 107 operações com US$ 65 milhões no total. “Ainda que a maioria das operações tenha sido feita por investidores brasileiros, a maioria do capital foi empregado por investidores sediados fora da América Latina. Isso se deve, em grande parte, aos investimentos de organizações de fora do Brasil com tickets de valores mais altos, que compõem a maioria das operações acima de US$ 1 milhão”, diz o relatório.
Retorno dos investimentos
Ao se levar conta todos os investimentos feitos no biênio, o setor com mais aportes foi o de agricultura e alimentos (US$ 159 milhões), seguido por microfinanças (US$ 132 milhões) e serviços financeiros (US$ 156 milhões).
Cerca de metade dos investidores esperam retornos ao nível da taxa de mercado, enquanto a outra metade aceita índices mais baixos em troca de maior impacto, demonstrando a alta diversificação do mercado em termos de expectativas de capital e perfil de impacto.
Mais de 80% dos investidores da amostra medem seu impacto e 70% dos investidores alinham suas mensurações e estratégias de gestão de impacto com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Aproximadamente metade (52%) das operações foi de investimentos iniciais em empresas específicas, enquanto 48% foram de investimentos follow-on. Ambas operações tiveram valor médio similar (US$ 1 milhão e US$ 0,9 milhão, respectivamente).
O relatório pode ser acessado neste link: https://cdn.ymaws.com/www.andeglobal.org/resource/resmgr/2020_reports_/LatAm_Impact_Investing_PT.pdf