Preservar para pescar

A cada ano que passa, ouvimos que os peixes em nossos rios estão acabando. Isso é realmente preocupante e merece nossa atenção!!!

Mas ao mesmo tempo em que os nossos estoques pesqueiros estão diminuindo, cresce em todo o Brasil e aqui também no Tocantins, o modismo de resolver a falta de peixes nos rios e reservatórios através do repovoamento, isto é, introduzindo alevinos criados em cativeiro.

Atualmente, existem várias críticas para a prática de repovoamento dos rios com alevinos. A primeira delas é que a introdução de alevinos criados em cativeiro e colocados nos rios e represas, quase sempre provenientes de um ou poucos casais, faz com que a variabilidade genética seja muito pequena. As populações naturais possuem uma grande variabilidade gênica, pois são provenientes de muitos casais que se reproduzem na natureza, selecionados pelas diversificadas condições ambientais. Dessa forma, introduções sem critério, mesmo feitas com boas intenções, podem levar à redução dessa variabilidade genética e, eventualmente, comprometer a sobrevivência da espécie.

Outro sério problema trata-se da introdução de doenças e parasitas, que antes não existiam no ambiente natural. Isso graças à criação em cativeiro, que em alta densidade, é extremamente favorável ao aparecimento de doenças e proliferação de parasitas.

Deve se considerar ainda que, muitas vezes, não se leva em conta que a soltura de alevinos fora da estação reprodutiva daquela espécie, é praticamente inútil. A grande maioria dos peixes de importância econômica se reproduz no período de cheia dos rios, por ser o período com condições mais propícias à sua sobrevivência, como por exemplo, maior oferta de alimento, oxigênio e refúgio, além de que, na cheia as águas encontram-se mais turvas, o que dificulta aos predadores capturarem os alevinos. Quando se solta um lote de alevinos em outra época do ano, tem-se que a grande maioria morre por falta de alimento e pela predação.

Mesmo contra toda essa argumentação, muitas pessoas acreditam que o governo estadual e os órgãos ambientais precisam criar e implantar um programa de repovoamento dos nossos rios.

O NATURATINS (Instituto Natureza do Tocantins) desenvolve há cerca de 10 anos o Projeto Quelônios do Tocantins que tem como objetivo proteger as tartarugas e tracajás em diversas localidades de nosso Estado. No início das atividades do Projeto Quelônios apenas se realizava a proteção das praias onde esses animais fazem seus ninhos e, posteriormente, no período de eclosão das ninhadas, milhares de filhotes eram liderados, ou seja, as ações resumiam-se na proteção das áreas de desova e restringiam-se a apenas um período do ano (julho a novembro).

Ano após ano, o NATURATINS percebeu que o número de ninhos nas praias não estava aumentado, mas na verdade em alguns lugares diminuía. Isso era reflexo da predação que as comunidades de ribeirinhos e pescadores exerciam sobre as tartarugas e tracajás fora das áreas protegidas e ao longo do ano, longe da presença dos fiscais. Com o passar do tempo percebeu-se que não bastava apenas proteger os ninhos e filhotes, mas que se fazia necessário uma ampliação das ações, de tal forma que atualmente esse Projeto é realizado em parceria com diversas comunidades locais, onde se busca um efetivo envolvimento daqueles que realmente são os maiores interessados na proteção desses quelônios.

Um outro bom exemplo de projeto que tenta conservar a vida de nossos rios trata-se do Projeto Peixe Vivo, que também é coordenado pelo NATURATINS e desenvolve suas atividades em municípios de entorno da Ilha do Bananal. Durante os meses de maior seca (agosto a outubro), quando o nível d’água de vários córregos, riachos, lagos e canais de irrigação chega em seu ponto mais baixo, os fiscais realizam o resgate de centenas de peixes adultos e jovens que estavam fadados à morte pela falta de água nesses locais. Esses peixes são recolhidos e transportados em tanques com água oxigenada para os rios da região. Segundo especialistas, esse trabalho é muitas vezes mais compensador do que a simples soltura de alevinos, mas também não descartam a possibilidade de utilização das técnicas de repovoamento com alevinos sob circunstancias bem específicas e obedecendo a cuidados científicos bastante rigorosos.

Vale lembrar que se queremos solucionar o problema da redução das populações de peixes em nosso Estado, devemos apoiar projetos ambientais, tais como o Projeto Peixe Vivo, assim como também conscientizar nossa população para evitarmos a pesca predatória e para protegermos as matas ciliares de nossos rios, riachos e lagos.

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