Queda no desmatamento da Amazônia em agosto não altera cenário geral de destruição da floresta
O sistema Deter do INPE-Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais divulgou no último dia 11 de setembro os dados completos de desmatamento da Amazônia referentes ao mês de agosto. Embora os 1.359 quilômetros quadrados de floresta desmatados em agosto representem uma queda de 21% em relação à destruição aferida no mesmo mês de 2019, esse é o quinto maior total mensal de desmatamento da série histórica. Como a queda é em comparação com 2019 – ano em que o desmatamento foi recorde – ela não altera o patamar de destruição da Amazônia, que continua alarmante.
“Como diz a sabedoria popular: uma andorinha só não faz verão. É importante reconhecer e parabenizar essa queda, mas é mais importante que essa tendência permaneça por vários meses para que o desmatamento na Amazônia retorne a níveis que o Brasil já alcançou no passado e caia ainda mais, de modo a permitir que alcancemos as metas que o próprio país estabeleceu”, analisa Mariana Napolitano, gerente do Programa de Ciências do WWF-Brasil.
O número de agosto também não é suficiente para inverter a tendência de crescimento das queimadas no bioma – e que se alimentam da matéria orgânica deixada no solo pelo desmatamento. “Quem desmatou agora precisa queimar para ocupar o solo e setembro é o segundo mês mais seco na Amazônia, portanto a última janela de oportunidade para fazer isso mais facilmente”, alerta Mariana. “Isso ajuda a entender porque os incêndios na Amazônia aumentaram 85% nos primeiros 10 dias de setembro em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Inpe”, completa.
O processo de desmatamento e queimadas que transforma floresta em, majoritariamente, áreas de pastagem é o grande responsável pelas emissões dos gases de efeito estufa do Brasil – que contêm também poluentes que causam doenças respiratórias. “Atualmente, Pantanal e Amazônia têm não só sua biodiversidade em risco, mas também a saúde pública”, ressalta Mariana.
Desmatamento e queimadas são algumas das principais causas de perda de biodiversidade no mundo, segundo o relatório Planeta Vivo, lançado ontem pelo WWF. De acordo com o estudo, de alcance global, em menos de meio século as populações globais de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes diminuíram, em média, 68%. Essa queda vertiginosa, registrada entre 1970 e 2016, se deve, em grande parte, aos mesmos processos de destruição ambiental que contribuem para o surgimento de doenças zoonóticas como a Covid -19: desmatamento, depredação ambiental e o comércio ilegal de animais selvagens. No caso da sub-região tropical das Américas, que inclui a Amazônia, a situação é ainda pior: a quase totalidade (94%) das populações das espécies estão em franco declínio.
As atuais taxas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado nos conduzirão a mais secas, queimadas, desaparecimento de espécies, novas doenças e vidas humanas ameaçadas. A opção que governos, empresas e sociedade fizerem agora irá determinar nosso futuro, conclui Mariana.