Indicação de confinamento #2
E aí, como andam esses dias de distanciamento social? É óbvio que você e sua família estão respeitando, né? Porque afinal, só se fala disso 24/7 na televisão e na Internet. Para passar um pouco dessa vontade de ir pra rua, que tal assistir teatro de rua? Bora?
E nem é qualquer teatro. Prestes a fazer 40 anos de criação, direto de Minas Gerais, um dos maiores grupos de teatro do país, o Grupo Galpão, disponibilizou em sua conta no Youtube 3 espetáculos: “Nós”, “De Tempo Somos – um sarau do Grupo Galpão” e “Romeu e Julieta”.
Minha indicação vai para este último, justamente por acontecer em um local em que os velhos estão enlouquecendo para voltar: a rua!
Entendo esse desejo de sair, pois foi justamente em locais públicos que vivi muito do que faz parte da construção do meu repertório cultural, de Chico Simões a Dona Selma do Côco, de Grupo Teatro Livre de Palmas a Clowns de Shakespeare e de Cordel do Fogo Encantado a Trupe Atrupelo.
Sempre cheia de energia e carinho, a frenética Jussara Dias, também conhecida como minha mãe, foi quem me levou para o que foi a minha última oportunidade de assistir ao Galpão, no Teatro Sesi de Goiânia. Apresentaram a peça “Tio Vânia (aos que vieram depois de nós)”, uma peça de Anton Tchékhov, como foi lindo!
Ela também foi a culpada por me levar uma outra vez, isso há mil anos, e depois de ficar embasbacado com a apresentação de “Um Molière Imaginário” (se não me engano), fui reconhecido em terras goianas por uma mulher tocantinense, por frequentar o Espaço Cultural de Palmas. Ela tinha sido aluna das aulas de teatro de papai, não só se tornou uma amiga, mas uma atriz: Renata Glória.
O Galpão não é somente teatro, é Centro Cultural, é pesquisa cênica e cultural. Publicam suas experiências, descobertas, trabalhos e pesquisas de todo o Brasil. Uma de suas revistas integra a bibliografia do meu TCC, porque um artigo do célebre Cícero Belém sobre a cena do teatro tocantinense compõe um retrato nacional.
A adaptação de Romeu e Julieta pode ser uma inspiração para os colegas do curso de teatro que andam parados nesses tempos de corona, é também a possibilidade de ver a tão conhecida história num formato mais brasileiro, cheio de símbolos da cultura popular, pernas de paus e um palco feito em cima de uma Veraneio de 1974.
Se deliciem com mais essa possibilidade cultural disponível. Lembrem dos seus conhecidos e amigos artistas de rua que vivem de seus trabalhos informais, as vezes essas pessoas estão passando por dificuldades nesses tempos em que “passar o chapéu” não é mais uma possibilidade.
Cuidem-se.
Cuidem do vizinho.
Cuidem do desconhecido.
Viva a cultura!