E a culpa é de São Pedro? Por quê?

Por José Luíz Cabral

Até quando iremos perder vidas por causa das chuvas?

Foto: Cortesia Pixabay

Chega o verão, e certamente, as chuvas serão mais intensas. Fenômenos meteorológicos transitórios como, a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) são típicos desta época do ano, e são esperados.

Como também, a ocorrência de veranicos. Recorrentes e temidos nas regiões produtoras de grãos.

E São Pedro com isso? Por que creditar a ele tamanha acusação? Em verdade, neste momento que escrevo são 47 mortos, 19 desaparecidos e mais de 13 mil desabrigados, em Minas Gerais.

Questiono-me o que as tragédias do Vale do Itajaí em Santa Catarina (2008), Morro do Bumba em 2010, no Rio de Janeiro. Região Serrana, em 2011 também no Rio de Janeiro. Lajedinho na Chapada Diamantina (Bahia) em 2013 tem em comum?

Será o mesmo que estamos presenciando nos Estados do Espirito Santo e de Minas Gerais?
Sim! Mortes, desaparecidos e inúmeros desabrigados!
Será que é somente isso?

O prefeito de Belo Horizonte rifou a responsabilidade aos céus. Segura São Pedro que a bola é tua! Outra autoridade, colocou a culpa na população.
Poderia escrever inúmeras linhas sobre a importância do planejamento urbano, das obras hidráulicas (macro e micro drenagem), das questões da destinação do lixo doméstico e da nossa responsabilidade quanto cidadão.

Entraria ainda, a preservação ambiental (fora de moda atualmente), a impermeabilização das vias urbanas. Claro que também, dos problemas demográficos, econômicos e sociais do nosso país, do “conhecer” da nossa bacia hidrográfica, das questões do monitoramento hidrometeorológico e etc.

Mais ainda não resolveria a equação. Onde estamos errando? São vidas perdidas e mais problemas sociais serão gerados e em parte, um assunto postergado e o negligenciado pelos nossos dirigentes, afinal de contas, a culpa continua sendo do guardião das chuvas o santo da igreja católica, São Pedro.
( Em defesa dele, o Santo e controvérsias a parte, São Pedro tem levado a culpa sem merecer. O Santo Heriberto fez chover, e é o guardião das chuvas, segundo crença da fé católica).

E nestas horas, se depender das politicas públicas (ou da falta dela) temos mesmo é que pedir a proteção a Santa Genoveva, a protetora dos que sofrem com as catástrofes).
Continuando…

Temos mapeamento de áreas de risco no Brasil? Temos! Foi suficiente ? o que falta?
Temos experiência com desastres desta envergadura? Infelizmente, temos!
Aprendemos com as recorrentes catástrofes? Parece que não!

Na região Serrana do Rio existe um sistema de alerta. Funciona? O que podemos aprender com este sistema? Quais experiências ?
O que podemos aprender ainda?
Somando a um brilhante trabalho do Serviço Geológico do Brasil – CPRM que já foi concluído, e disponibilizado para os diversos setores da sociedade, o que ainda falta?

Somos mais de 5500 municípios. Somos um Brasil de particularidades e desigualdades.
De nada adianta o monitoramento realizado pelos Centros Regionais de Meteorologia, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN, Instituto Nacional de Meteorologia-INMET, Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC se ainda falta o fortalecimento de ações de proteção e defesa civil, pelos Planos de Ação e Emergência (PAE) e principalmente, pela introdução formal da cultura do risco nos municípios e estados.

Depois de instalado o “caos” é fácil culpar os céus e a natureza.
Evidente, que se tem avançado, mais muito lentamente! Modelos hidrológicos tem auxiliado o monitoramento no Rio Doce, mais quantos rios ainda não tem?
Temos profissionais dedicados e altamente qualificados, mais temos dimensões continentais e cada vez mais precisamos do engajamento de mais profissionais para somar e fortificar a cultura do RISCO (sim, em caixa alta).
Proteção e Defesa Civil é um dos setores mais importantes de um município, de um Estado, de um País.

As comunidades ribeirinhas, dos morros, das grandes e pequenas cidades, do meio rural precisam entender, os seus riscos e suas reais vulnerabilidades, sejam elas quais forem.
Não podemos perder mais vidas pela negligência ou da falta de politicas públicas de proteção e defesa civil no Brasil.

Pede-se, mais investimentos! Sim, investir em proteção a vida!
Outros verões virão!
E de preferência sem perder VIDAS !

José Luiz Cabral

Atualmente é professor/pesquisador da Universidade Estadual do Tocantins (UNITINS). Tem experiência em meteorologia e recursos hídricos, atuando nas áreas da: meteorologia sinótica, agrometeorologia (crescimento de desenvolvimento de culturas), climatologia, mudanças climáticas e fontes renováveis de energia (eólica, solar, biomassa). Condecorado com a Medalha de Mérito da Defesa Civil, outorga pelo Governo do Estado do Tocantins. Consultor em projetos de: Meteorologia, Energia Solar, Hidrometria e Agrometeorologia. Tem expertise em novas tecnologias e empreendedorismo digital. Contato: E-mail - meteorologia@vivoverde.com.br | Twitter - @nemetrh