Genética pode ser o motivo de fenômeno único de duas antas albinas no Legado das Águas
É a primeira vez que dois animais albinos da mesma espécie são registrados no mesmo lugar. A Reserva pode ainda abrigar as duas únicas antas albinas do mundo
O alto grau de conservação das florestas do Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do país, localizada no Vale do Ribeira, em São Paulo, tem se mostrado um verdadeiro refúgio para espécies da fauna e flora do bioma atlântico. Este é o caso das duas antas machos albinos descobertos na Reserva. A explicação para o fenômeno extremamente raro de albinismo acontecer duas vezes e no mesmo lugar pode estar ligada a um possível grau de parentesco entre os dois animais.
Em 2018, quatro anos após a descoberta da primeira anta albina, um segundo indivíduo, também macho, foi registrado nas áreas do Legado das Águas. Dentre as possibilidades mais defendidas pelos pesquisadores é a de que os dois animais possuem algum grau de parentesco, podendo ser irmãos, ou pai e filho.
Mariana Landis, pesquisadora do Instituto Manacá, parceira do Legado das Águas e responsável pela pesquisa com as antas na Reserva, diz que o albinismo por si só já é uma condição rara, mas acontecer duas vezes no mesmo local, é daquelas probabilidades de uma em um milhão. Isso porque o albinismo é hereditário e recessivo. Significa que o macho e a fêmea precisam ter o gene que causa a falta de pigmentação, e o detalhe é que não necessariamente os “pais” são albinos, pois o gene pode não se desenvolver no indivíduo que o carrega.
A presença do albinismo expressado nas antas do Legado, pode ter ocorrido por puro acaso no ambiente natural: fêmea e macho que possuem o gene, precisam se encontrar, para então dar origem ao filhote albino. Mariana pondera que não é comum ter animais na natureza que possuam esse gene. “Mesmo sem números exatos, é possível dizer que a incidência é baixa, visto que animais albinos são raros. Tão raro quanto são os dois indivíduos que possuem o gene se encontrarem em uma floresta, principalmente nas que possuem grandes áreas, como o Legado das Águas, cujo território é correspondente ao tamanho da cidade de Curitiba”, diz.
Esses são os principais motivos que sustentam a hipótese de que o Gasparzinho e o Canjica, como foram batizados os machos albinos, possuem grau de parentesco. “Por meio dos registros das armadilhas fotográficas, observamos que o Gasparzinho, primeiro macho descoberto, ocupa com frequência as mesmas áreas. O Canjica tem aparições menos frequentes, mas as áreas de registros se sobrepõem as do Gasparzinho. Portanto, pela sobreposição da área de vida desses dois indivíduos, acreditamos que eles sejam irmãos ou pai e filho.”, explica Mariana.
Segundo a pesquisadora, o próximo passo que comprovará a hipótese é um exame de DNA que será feito por meio de amostras de pelo coletadas em campo. “Instalamos uma espécie de coletora de pelos, feito com arame farpado e instalado nos pontos em que eles mais frequentam. O pelo gruda sem machucar o animal, pois a pele é grossa e a altura é ajustada ao tamanho da espécie. Até o momento já conseguimos amostras do Gasparzinho. Assim que tivermos a amostra dos dois, faremos os exames para comprovação da hipótese”, diz a pesquisadora.
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