Museu do Amanhã conquista o ouro em sustentabilidade
É o primeiro do país a obter o selo LEED nesta categoria, importante reconhecimento internacional para edificações verdes
Seis meses após sua inauguração, o Museu do Amanhã recebe o selo Ouro na certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design ou Liderança em Energia e Projeto Ambiental, em português), concedida pelo Green Building Council – principal instituição americana na chancela de edificações verdes. É o primeiro museu do país a obter este reconhecimento internacional no segundo mais alto nível de classificação – são quatro: certificado, prata, ouro e platina.
Para conquistar o selo Ouro, o projeto foi avaliado desde sua concepção, em sete categorias: uso racional da água; espaços sustentáveis; qualidade dos ambientes internos da edificação; inovação e tecnologia; atendimento a necessidades locais; redução, reutilização e reciclagem de materiais e recursos; eficiência energética. Ao longo da obra, o Museu foi vistoriado continuamente por equipes da Casa do Futuro, empresa de consultoria especializada em sustentabilidade e novas tecnologias em edificações contratada pela Fundação Roberto Marinho, e pelo Green Building Council.
Uma das âncoras da revitalização da região portuária, o Museu do Amanhã tem arquitetura sustentável, que dialoga com seu conteúdo. Assinado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, o projeto é voltado para o melhor aproveitamento de recursos naturais da região. Entre seus diferenciais, destacam-se a tecnologia empregada na captação da energia solar e o uso das águas da Baía de Guanabara no sistema de ar condicionado. A estimativa é que, por ano, sejam economizados 9,6 milhões de litros de água e 2.400 mega watt/hora (MWh) de energia elétrica, o que seria suficiente para abastecer 585 residências.
A água da Baía é captada pelo museu com duas finalidades: para abastecer os espelhos d’água e para o sistema de refrigeração, onde é utilizada na troca de calor Depois de passar por um processo de filtragem de sólidos e usada na climatização do Museu, é devolvida ao mar. O uso racional da água também se dá no tratamento e na reutilização das águas de pias, lavatórios, chuveiros e chuvas, além do volume proveniente da desumidificação do ar (o “pinga-pinga” do ar condicionado) – que sozinho pode render até 4 mil litros de água ao dia.
Parte da energia utilizada no edifício é gerada pela captação de energia solar: as grandes estruturas de aço instaladas em sua cobertura móvel servem de base para placas fotovoltaicas e, ao longo do dia, se movimentam como asas para acompanhar o posicionamento do sol. O projeto também prioriza a entrada de luz natural. Já o paisagismo, assinado pelo escritório Burle Marx, traz espécies nativas, que necessitam de pouca rega, ressaltando a vegetação típica da região costeira da cidade – são mais de 5.500 metros quadrados de área de jardins.
Medidas voltadas para a obtenção do selo Ouro foram adotadas desde o início da construção do museu, com a redução e correta destinação de resíduos para reciclagem – sobras das estacas das fundações, por exemplo, foram utilizadas na construção dos barracões utilizados durante a obra. Foram poupadas toneladas de aço com essa ação. A seleção de materiais também foi realizada a partir de critérios ambientais, dando preferência a materiais com componentes reciclados, baixa toxidade, alta durabilidade e produzidos próximos ao local da obra, além da utilização de madeira certificada FSC.
Emitido em mais de 130 países de todo o mundo, o selo LEED é considerado a principal certificação de construção sustentável para os empreendimentos do Brasil, onde é representado oficialmente pelo Conselho de Construção Sustentável do Brasil, criado no país em 2007.
O Museu do Amanhã é uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro, concebido e realizado em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, instituição ligada ao Grupo Globo, tendo o Banco Santander como Patrocinador Máster. O projeto conta ainda com a BG Brasil como mantenedora e o apoio do Governo do Estado, por meio de sua Secretaria do Ambiente, e do Governo Federal, por intermédio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social de cultura sem fins lucrativos vencedora da licitação promovida pela Prefeitura do Rio, é responsável pela gestão do museu.
Desejo de disseminar a cultura da arquitetura sustentável em todo o país
Além do Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio – MAR, também concebido e realizado pela Fundação Roberto Marinho em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, recebeu o selo Prata na certificação LEED em 2013 – ano de sua inauguração. Juntos, os dois museus contribuíram para mudar a paisagem da Praça Mauá, no centro do Rio, como parte do projeto de requalificação da zona portuária da cidade, atraindo cada vez mais cariocas e turistas para a região e incrementando o comércio local.
“A conquista do selo Ouro no Museu do Amanhã reflete a dedicação da equipe envolvida no projeto, de diferentes instituições, que buscou soluções e se empenhou para alcançar este reconhecimento fundamental para um museu que tem como missão despertar em seus visitantes para a construção de um amanhã guiado pela ética da convivência e da sustentabilidade”, destaca a gerente geral da área de Patrimônio da Fundação Roberto Marinho, Lucia Basto. “Queremos disseminar internamente a cultura da construção verde, difundi-la entre nossos fornecedores e parceiros e implementá-la em outras iniciativas. Quando nos vimos diante do desafio de conceber três novos museus no Rio – MAR, Museu do Amanhã e MIS, em construção na Av. Atlântica, em Copacabana –, em 2009, percebemos que era o momento apropriado para estimular e ampliar as práticas da arquitetura sustentável também na esfera pública. Para nossa felicidade, estávamos alinhados com a Prefeitura e o Governo do Estado, que compraram essa ideia”, complementa.
Fonte: Priscila Antines – Approach