O que esperar do encontro da cúpula do clima?
É fato que o desmatamento e as queimadas tiveram aumento nos últimos anos no Brasil.
Evidente também, é que pouco se fez até aqui no campo da preservação ambiental por parte do ministério do meio ambiente. Redução das ações de fiscalização, redução significativa do corpo técnico dos órgãos ambiental e por último, uma briga pública entre o ministro da pasta e a polícia federal sobre a legalidade da maior apreensão de madeira extraída da floresta Amazônica. Que se estima em mais de 65 mil árvores derrubadas.
Diante de tal conflito, o que de imediato pode acontecer é a troca do superintendente da polícia federal do Amazonas, como já circula pelos noticiários.
Com o abandono literal da agenda ambiental, criou-se também uma tensão ainda maior na área da agropecuária que exportam carne e grãos para o mercado internacional, que vezes por outra, já se deparam com embargos sanitários e comerciais próprios deste competitivo setor.
Sem uma política ambiental e climática definida, com discursos dúbios e sem uma postura propositiva, o Brasil continuou omitindo seu posicionamento para o mundo.
Grandes líderes mundiais se manifestaram contra o desmatamento da Amazônia e foram rechaçados com clichês patrióticos descabidos e que protagonizaram alguns momentos cômicos e desnecessários, como o argumento da “pólvora”.
Afinal, os satélites que mensuram o desmatamento da região pertencem as mais diversas organizações internacionais. Seus bancos de dados são disponibilizados de forma gratuita e onde os pesquisadores de toda parte do mundo acessam e produzem seus artigos científicos. O que é incontestável mesmo, são os resultados da devastação ambiental.
Após esta péssima repercussão internacional, houve uma simbólica mobilização de combate as queimadas e de fiscalização com o apoio de homens do exército durante o período mais crítico daquela região.
E quais foram os resultados? Mais polêmicas numéricas sobre o tamanho do desmatamento. E foi eleita como “culpada” as diferentes metodologias.
Contudo, o que se mais publicou foram respostas as críticas internacionais que só demonstraram a nossa fragilidade e incapacidade em resolver os nossos problemas ambientais.
Em uma revisão do acordo de Paris em dezembro do ano passado, as metas apresentadas e propostas pelo ministro do meio ambiente, simplesmente, são para aumentar ainda mais as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera.
Ora, se 75% das emissões brasileiras são provenientes das queimadas, como estamos propondo aumentar a nossa taxa de emissão de CO2 para atmosfera?
É para ter mais margem para queimar?
As consequências em termos globais são terríveis, uma pela possibilidade de aumentar a temperatura do planeta terra até 2030 acima de 1,5ºC e a outra pelo enfraquecimento da política ambiental brasileira perante ao mundo, que repercutia com ações positivas e que encabeçava discussões sobre a temática.
Em mais um encontro da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, que está realizado nestes próximos dias 23 e 24 de abril, o que podemos esperar da nossa participação como convidados do governo americano, além de mais constrangimentos?
Certamente, as cobranças deverão vir de todos os lados, principalmente, pelo novo presidente dos Estados Unidos Joe Biden. Que fez os EUA retornarem para o acordo de Paris, como um dos seus primeiros atos executivos de sua administração.
Apressadamente, o Brasil apresenta o “Plano Amazônia 2021/2022” que é o primeiro documento formal do governo para o combate ao desmatamento na região Amazônica.
No entanto, especialistas apontam que as metas não representam e nem sinalizam uma mudança de postura do governo com a agenda ambiental climática mundial. A meta, é considerada menor do que a quantidade que já foi desmatada desde o início deste governo.
Também por não apresentar ações concretas alinhadas com a previsão orçamentária anual. Entre outras críticas, que o plano omite e desconsidera as políticas públicas existentes para combater o desmatamento amazônico e não prever a participação popular, como os representantes da sociedade civil, povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas.
Não sejamos ingênuos que os inúmeros interesses pela preservação de nossas florestas sejam frutos do altruísmo e do ativismo ambiental. São centenas de milhares de dólares que movimenta a economia verde.
A atração de fundos internacionais bilionários não deve ser hostilizada. Mas, aproveitada! Por que não tirar vantagens deste ativo verde e vivo da floresta em pé? A floresta é riqueza, é a garantia da sustentabilidade dos povos que vivem e dela dependem. Por que não investir nos fármacos que dela podem ser extraídos entre outras tantas alternativas.
A pergunta que fica é, quais ações que credencia o Brasil a continuar recebendo os generosos fundos internacionais? Será que temos vontade política para reverter tal postura?
Esperar para ver!