Petróleo: o maior bloqueio ao desenvolvimento de energias limpas

Por @VozdoAlem

De vez em quando me ponho a refletir sobre um assunto extremamente paradoxal, simples e recorrente: por que um planeta com uma ciência que consegue criar celulares do tamanho de uma unha, foguetes que viajam para a imensidão do espaço, aceleradores de partículas com uma circunferência do tamanho de países inteiros e uma infinidade de outros objetos considerados avançados… não consegue criar uma alternativa energética que seja tão difundida quanto os combustíveis fósseis derivados do petróleo, usados há séculos? A pergunta é simples, e a resposta parece estar diante da cara de todos, mas certos interesses alheios eclipsam a facilidade em responde-la. Existem várias alternativas para suprimir de vez o uso de combustíveis fósseis altamente poluidores e cada vez mais escassos, e o grande vilão por trás desse atraso na área energética se chama dinheiro. Respostinha óbvia, com certeza.

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Mas, saber o quanto engravatados com os bolsos cheios de dinheiro afetam de verdade o desenvolvimento tecnológico da questão enérgica mundial, é importante para se chegar a raiz do problema com mais facilidade, e esses caras estão nos EUA, é lá é que está o centro do jogo de interesses petroleiro mundial. O fato é que, assim como as empresas de cigarro, as empresas de petróleo possuem poderosos lobbies em Câmaras Legislativas espalhadas pelo mundo, muitos deles com mais grana para defender seus interesses que economias de países inteiros. Esses caras utilizam métodos sujos – coisas como suborno e intimidação -, e a idéia deles é lutar pelos seus interesses em duas fontes: a) impedir que leis que imponham restrições à indústria petrolífera sejam aprovadas – ou ao menos cortar as partes mais restritivas; b) fazer o possível para impedir que sejam desenvolvidas alternativas limpas para a miséria poluidora que são os combustíveis fósseis – mais uma vez utilizando métodos sujos, como infiltrar gente em escritórios para roubar patentes. Pelo modo como as coisas estão hoje, é fácil perceber que eles são caras que estão obtendo muito sucesso.

Essas movimentações desesperadas, que se intensificaram fortemente nos últimos seis meses, que mais aparentam os sacolejos de uma cobra sendo atacada por um sapo assassino, têm um motivo: os olhos das empresas de petróleo estão nos congressistas americanos, que estão apreciando a Legislação de Energia Limpa (chamada oficialmente de Ato de Segurança e Energia Limpa, ou H.R. 2454). A reputação dessas empresas já não é das melhores (lembra da época em que a Petrobrás só fazia burrada, despejando tudo quanto é composto tóxico na natureza, ainda na gestão Fernando Henrique Cardoso? É mais ou menos disso que estou falando…), e a aprovação de uma lei que mina ainda mais os poderes delas poderia dar uma sensação de beijo na lona parecida com a que o orgulhoso George Foreman deve ter sentido ao ser espancado sem piedade por Muhammad Ali em 1974. O desespero aumentou ainda mais, pois a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou a lei (por um placar apertado: 219 a 212, com 44 Democratas votando contra), e agora ela segue para o Senado, que possui um lobby menos poderoso graças a demissão de executivos da Halliburton (e de outras várias empresas nada idôneas) de posições-chave do governo, após a saída da gangue de Bush do primeiro plano da política americana.

Por mais pessimistas que sejam os ambientalistas – pessimismo esse devidamente alimentado pelo bate-boca inútil de baratas-tontas da recente COP15 – a tal Legislação de Energias Limpas dos EUA representa um avanço sem precedentes em um país recheado de lobistas que financiam uma situação que mantém o país dependente de petróleo. A idéia original dos deputados Waxman e Markey, os dois democratas que estão patrocinando a lei, é levar os EUA a reduzir sua emissão de gases do efeito estufa (GEE) em 17% até 2020, e em 83% até 2050, em comparação às emissões de 7,1 bilhões de toneladas emitidos pelo país em 2005.

Mas o método para se chegar a isso gerou polêmica, pois envolve o controverso e nada unânime mercado de Créditos de Carbono – que para alguns não passa de uma maneira de afrouxar multas para empresas que ultrapassam suas cotas de emissão. Por esse motivo, o Greenpeace se afastou do grupo de ONGs ambientais que apóiam o projeto de lei. Ao menos o motivo oficial dado por eles foi esse, mas talvez esse abandono esconda um certo descontentamento com as não-poucas concessões que o grupo de apoio da lei teve de fazer para conseguir que ela fosse aprovada. O lobby que mais recebeu benefícios foi o Agrícola (o fato deles serem menos agressivos que os petroleiros deve ter ajudado na escolha), que conseguiu que o Departamento de Agricultura (ao invés da Agência de Proteção Ambiental) seja o órgão que decidirá quais são as atividades agrícolas que poderão gerar créditos de carbono. O temor de vários ambientalistas deriva do fato de que o Departamento de Agricultura é um território vastamente controlado por empresas agrícolas, e pode (eu diria “deve”, mas prefiro ser menos taxativo) acabar colocando interesses comerciais acima dos ambientais, além do fato de que falta aos funcionários desse departamento um conhecimento técnico vasto sobre a questão de poluentes, o que não ocorre na Agência de Proteção Ambiental.

Os protestos contra a lei já começaram. Agricultores estão argumentando que seus lucros cairão… por causa do encarecimento de combustíveis, já que a indústria petrolífera é a que será mais garfada, justamente por ser a mais poluidora. Tais argumentos foram destroçados até mesmo pelo Departamento de Agricultura, que disse, baseado num estudo feito por eles em conjunto com a Agência de Proteção Ambiental, que os gastos só se elevarão num nível considerável lá pelo ano 2020. O medo deles vem da forma como serão aplicados os preços do carbono no mercado: os preços das cotas de carbono aumentarão ano-a-ano, e serão cada vez menos permissivos, o que forçará as empresas a tornarem seus processos mais eficientes e menos poluidores. Quem não conseguir, poderá comprar créditos de atividades realizadas por empresas que estão fora do alcance da lei, como a florestal, o que financiará as atividades de empresas verdes.

Logicamente que o volume de dinheiro movimentado nessas compras e vendas, principalmente nos primeiros períodos da lei em vigor (se ela for aprovada, claro), será gigantesco. Estima-se que somente os EUA serão responsáveis por dois terços dos 2,9 bilhões de dólares que estudos apontam que circularão pelo mercado mundial de carbono entre 2008 e 2012. Apesar de estar fora do grupo que a lei provavelmente punirá, o setor agrícola também precisa de melhoras, como por exemplo, tornar as técnicas de plantio menos agressivas à terra, além de tomar iniciativas quanto ao reflorestamento. São atividades como essa que gerarão créditos (os chamados offsets) que poderão ser comprados por empresas que ultrapassarem sua meta de poluição. Caso as empresas do país não alcancem isso, os poluidores poderão ir até o mercado externo e comprar offsets.

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Contudo, o setor agrícola é o que menos será impactado por esse tipo de lei. Os lobistas do petróleo, os que estão na mira dos legisladores pró-ambiente, foram mais longe e não ficaram só na reclamação. Uma das primeiras medidas anti-Lei de Energias Limpas que eles tomaram foi o de deturpar estudos (alguns do renomado Instituto de Tecnologia de Massachussets, o MIT, outros da própria Agência de Proteção Ambiental dos EUA) no sentido de apontar o impacto econômico da lei, que sempre foi o argumento principal de Bush para jamais chegar perto do Protocolo de Kyoto. Os congressistas-líderes do grupo mais conservador do Congresso, o deputado John Boehner (do Partido Republicano de Ohio) e o senador Mitch McConnell (Partido Republicano de Kentucky), afirmaram com todas as letras que a curto e médio prazo tais medidas irão tornar o custo de vida das famílias americanas 3.100 dólares mais caro, o que poderia diminuir o número de americanos no ensino superior. Sim, eles subentenderam que uma economia limpa nos EUA deixaria o povo menos inteligente, já que as universidades estarão com menos alunos.

John Reilly, o estudioso do MIT que dirigiu o estudo que serviu de base para as afirmações dos congressistas, deu uma entrevista ao site PolitFact, onde tratou de desmentir toda a distorção política que os dois homens fizeram em seu estudo (cabe aqui dizer que esses dois caras também são os líderes de um lobby que está lutando contra as reformas na saúde nos EUA, com o objetivo de deixar os Planos de Saúde continuarem com seu reinado sujo. Mais sobre isso no documentário SOS Saúde, de Michael Moore). O erro dos congressistas – proposital, já que Reilly os advertiu meses antes que o método usado por eles para interpretar os números do estudo estava errado – foi apenas acrescentar os impostos e aumentos que a legislação de energia acarretará, sem, contudo, deduzir que a mesma trará reduções de preços em uma gama de produtos, somado aos benefícios dos EUA passarem a contar com uma economia mais limpa e uma menor dependência do preço especulado e escravizador do petróleo. Na mesma entrevista, Reilly mostra os verdadeiros acréscimos econômicos que o estudo aponta que ocorrerão: o aumento do custo de vida será de apenas US$ 30,86 por pessoa… isso em 2015. Ah, a mesma dupla de legisladores esqueceu de dizer que Obama pretende usar o dinheiro pago pelo aumento de impostos para financiar energia mais barata para as famílias de baixa renda; em outras palavras, tirar dos ricos pra dar aos pobres, coisa que deve incomodar violentamente. E os leva à mentira deslavada.

Ao verem seus colegas sendo desmentidos, outros lobistas-congressistas americanos acabam por deixarem as máscaras caírem. Seus principais argumentos – a energia limpa vai tirar o emprego de muita gente, elevar o custo de vida da população e tornar a economia norte-americana menos competitiva – cai por terra em segundos ao se investigar a origem e a bandeira ideológica dos defensores dessas idéias. O blog Think Progress (o mais importante blog políticos dos EUA depois do Huffington Post) realizou um estudo para saber as origens políticas e financeiras dos congressistas que são contra as reformas na legislação de energia americana. Como era de se esperar, 80% desses caras trabalham, ou trabalharam com empresas de petróleo, ou representavam países petroleiros nos EUA.

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Um desses caras é David Keene, que trabalha pelos interesses do Carmen Group, uma empresa de… lobismo (anteriormente ele trabalhou como conselheiro dos governos de Nixon, Reagan e Bush Pai, e só aí já dá pra saber qual é a dele). Atualmente Keene articula com deputados americanos acordos vantajosos para empresas que operam no instável mercado nigeriano de petróleo, especialmente no estado de Bayelsa. A carteira dessas empresas junto ao grupo chega ao valor de quase um milhão de dólares desde 2006, tudo em nome de negociatas para manter o status quo da questão enérgica americana, baseada – e dependente – de combustível fóssil. Esse apoio massivo de lobistas a países africanos produtores de petróleo leva a choques e rachas mesmo dentro do governo americano. Enquanto o Departamento de Estado reitera seu relatório dizendo que a Nigéria (e outros países da região próxima) podem servir de abrigo para terroristas, além de local para recrutamento de homens-bomba e similares, o Departamento de Energia mantém a ficha desses países “limpa” para que as negociatas continuem livremente.

Mas nem sempre os lobistas se apresentam de forma tão clara. Uma das estratégias é criar organizações populares – ou algumas vezes científicas – como forma de camuflar os reais interesses da indústria de petróleo na sua luta contra as energias limpas. Um desses grupos é o Americans for Prosperity (AFP), talvez o mais ativo grupo contra as energias limpas em ação em solo americano. Em sua frente de batalha mais conhecida, o AFP realizou muitos chás, piqueniques e outras baboseiras para angariar seguidores e simpatizantes da “causa” da energia fóssil. Depois eles partiram para agressão e trataram de lançar publicações pseudo-científicas, que receberam ampla cobertura em parte da imprensa, graças ao apoio da Fox News (que pertence a Rupert Murdoch, um dos grandes apoiadores da extrema-direita americana, e com fortes ligações com a Família Bush). E não foi surpresa pra ninguém quando foi descoberto que foi David Koch, da Koch Industries (através da subsidiária Koch Supply & Trading e Flint Hills Resources), uma grande refinaria de petróleo, que financiou a criação do grupo, e continua sendo seu principal apoiador. Não por acaso, Koch tem inúmeros contatos com fornecedores de petróleo sauditas e nigerianos (mais sobre grupos falsos AQUI, e em inglês).

Os braços políticos de Koch (ele e seu irmão Charles são dois dos 15 homens mais ricos das Américas) vão ainda mais longe. Ele é taxado pela administração Obama como o mais feroz opositor de qualquer progresso reformista na questão energética, e investe em qualquer campanha suja que possa minar a credibilidade dos que lutam para levar um pouco de sustentabilidade aos EUA (ponto a favor: eles são generosos doadores das artes, e de pesquisas de saúde, principalmente ligadas ao câncer). Mas ele também é responsável por financiar uma poderosa e coordenada campanha pra incutir na mente de todos que esse lance de energias limpas é retrógrado e levará os EUA para o buraco financeiro, além de tentar quebrar o consenso científico que algo está literalmente errado com o clima do planeta.

Um dos amigos de Koch, Christopher Horner, diretor-sênior do Competitive Enterprise Institute (CEI), ameaçou processar a NASA acusando-a de distorcer dados sobre a questão do aquecimento global. Obviamente que o braço midiático da gangue do petróleo – a Fox News – entrou em cena e fez todo o alarde possível para o fato… se “esquecendo” de dizer que a CEI recebeu milhões em financiamento da Exxon Mobil (a Esso), e de outras fundações ligadas a indústria do petróleo (600 mil dólares do próprio Koch). Eu ia falar sobre os esforços de Koch e sua laia para solapar as reformas de saúde, mas isso foge ao assunto (dá pra você ler AQUI, em inglês).

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A FreedomWorks é bastante similar a Americans for Prosperity, e nasceu com objetivos similares. A Freedom foi a responsável por uma extensa campanha para tentar trazer a Câmara de Deputados dos EUA para o lado petroleiro da força, e utilizou métodos similares a todas as outras organizações lobistas, com festas, chás e outros eventos que só servem para fisgar políticos pelo estômago. O principal líder da Freedom é Dick Armey, que já havia trabalhadora na empresa de lobismo DLA Piper… gerenciado a conta do xeque Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, administrador de 10% das reservas mundiais de petróleo.

Uma outra iniciativa de países possuidores de grandes campos de petróleo foi financiar a criação do grupo Energy Citizens (algo como Cidadãos da Energia). Quem analisa o projeto, primariamente tende a vê-lo como uma iniciativa popular para arregimentar pessoas que estão sendo prejudicadas pelas legislações do governo que apóiam as energias limpas, logicamente que usando daqueles métodos meio de programas de TV de auto-ajuda, apelando para velhinhas desamparadas e mães cheias de filhos contando histórias (geralmente falsas) de cortar o coração. Em resumo: basicamente são pessoas (pobres, para serem apoiadas) que dizem que tiveram suas contas aumentadas devido aos custos maiores de energias ditas verdes, e de gente desempregada que trabalhava em empresas petrolíferas que supostamente perderam mercado. Logo depois ela evoluiu, e se tornou uma rede de assistência aos pobres dos EUA… cuja a ajuda era dar combustível para o aquecimento delas.

Em agosto do ano passado o Greenpeace conseguiu um memorando interno da organização que expunha toda a verdade: eles eram patrocinados pela API, o American Petroleum Institute (quer uma amostra do nível do povo que compõe esse instituto? Lá vai: ExxonMobil, a GE e a Halliburton), que cuidava também de conseguir supostos “pobres” para receberem óleo para aquecedores em suas casas, além de transportar os associados para protestos anti-energia limpa. Em suma, era tudo uma farsa desde o princípio, no intuito de tentar minar a credibilidade sobre as energias alternativas, e deixar todo o terreno livre para os caras que sentava nos ultra-luxuosos escritórios da Texaco, da Shell, e da Exxon Mobil. Tais pessoas nem ligavam para o fato de que os eventos anti-energias limpas nunca foram populares… elas usavam os métodos que conheciam e mandavam seus próprios funcionários para encorpar tais protestos, e tornavam tudo mais ou menos como aqueles piqueniques corporativos irritantes, onde ninguém parece gostar do que está fazendo.

A idéia deles é mostrar que o petróleo é apoiado pelo povo, e não somente por barbudos do Oriente Médio e executivos que recebem somente para subornar e ameaçar. Mas fica difícil mostrar isso quando se pode facilmente fazer umas continhas rápidas. Os EUA importam quatro milhões de barris de petróleo por dia, 1,5 bilhão por ano, a um custo de um bilhão de dólares por DIA. Parte dessa grana vai para países classificados por eles mesmos como instáveis. O custo econômico disso é altíssimo, pois, além de deixar o déficit na balança comercial americana na lona, ainda mina empregos dentro dos próprios EUA. E mesmo que todo o lance de aquecimento global seja uma farsa pura e simples (e eu creio que não é), é difícil argumentar à favor dos negócios sujos e destruidores do petróleo. Para se ter uma outra idéia numérica de como Bush falou besteira ao afirmar que investir em energias é economicamente suicida, entenda que os EUA consumiram 23% do petróleo do mundo, e 57% disso é importado. E enquanto esse quadro for tão lucrativo, fica difícil mudar alguma coisa. A Exxon, em 2009 alcançou uma receita de 45 bilhões de dólares, sendo 43% disso proveniente de petróleo importado. A Chevron fez 23 bilhões, com 50% de receitas vindas de importações.

É óbvio que o círculo vicioso criado dessa fórmula energética é um dos maiores problemas geopolíticos do mundo. O argumento para se chegar a essa conclusão é simples: os bilionários da indústria de petróleo financiam um sem-número de campanhas políticas para chegarem ao poder; e quando lá estão, patrocinam invasões de países que ousam não fazer acordos interessantes para eles. Logicamente eles são poderosos o bastante para elegerem dezenas de deputados/senadores e até presidentes, ou você acha que a invasão do Iraque (cheio de petróleo) e do Afeganistão (por onde passa um dos mais importantes oleodutos da região, além de ter sido por muito tempo um grande produtor de ópio, um dos interesses comerciais da CIA). A Exxon Mobil, por exemplo, é a maior extracionista de petróleo do Iraque, e se você olhar um pouco além da superfície verá muito mais.

Mascarar os benefícios de leis energéticas limpas também faz parte das jogadas deles. Um estudo do Departamento de Energia dos EUA assegurou que os investimentos em energia limpa movimentariam mais de 150 bilhões de dólares, e a criação de empregos passaria de 1,7 milhão… tudo num prazo curto de dois anos após a lei ter sido aprovada. Isso sem contar os benefícios ambientais claros, pois deixariam de ir para a atmosfera mais de 640 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono, o que equivale a 122,5 milhões de veículos de passeio na estrada poluindo geral.

Tais fatos mostram como os ricaços do petróleo jogam sujo para manterem seus rios de dinheiro à salvo de legislações do efeito demolidor de uma legislação de energia limpa. Mas eles não trabalham sozinhos. Naturalmente existem outras indústrias que estão do lado deles. A mais suja é a de armamentos, que faz veículos propositalmente devoradores de gasolina para aumentar lucros e aumentar gastos governamentais. A outra é a de automóveis.

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Li há uns quatro anos atrás um estudo de um grupo de economistas do MIT que dizia todas as estimativas quanto ao fim do petróleo no mundo eram equivocadas, o que até certo ponto é correto, pois a tecnologia avança bastante nesse campo, e permite que campos petrolíferos antes inacessíveis possam ser explorados. Usando argumentos parecidos, chefões de empresas de combustíveis dão um jeito de contornar aquela idéia de que o petróleo está acabando, é coisa do passado ou algo assim. Para ajuda-los a passar essa imagem de indispensabilidade, entram aí as empresas de automóveis, e existe uma questão particularmente interessante aí.

Carros americanos são os mais poluidores e bebedores do mundo, e isso solapou o domínio da indústria americana no ramo de carros. O símbolo dessa queda foi a falência da General Motors, que por décadas foi a líder mundial na produção de carros e algumas vezes a maior empresa do planeta. E ela caiu como uma ameixa madura nos pesados da chamada Crise Econômica que solapou os alicerces do capitalismo liberal. Os carros preferidos dos americanos – e os preferidos da GM – são SUVs (utilitários esportivos de porte militar), que precisam de postos de gasolina na carroceria, mesmo o mais econômico deles. As indústrias americanas estavam seguras de si, com rios de dinheiro nos bolsos, mas vieram os japoneses como um vento mortal e mandaram tudo pelos ares. Os carros deles eram econômicos, baratos… e em alguns anos a Toyota chutava o que restou da GM, profundamente endividada. A indústria de automóveis americanos foi por anos símbolo da supremacia dos EUA e hoje cambaleia pedindo ajuda do governo para sobreviver. Não coincidentemente, o maior mercado de automóveis americanos é o Brasil.

A indústria de automóveis é como um símbolo distante de todos os apoiadores do petróleo: são poderosos, tem muito dinheiro, mas aos poucos uma corda vai começando a machucar seu pescoço, o que exige que ela se debata vigorosamente para se manter viva. A melancolia deve estar se aprofundando na mente dos executivos dessas empresas sujas – ambientalmente e juridicamente – e isso que as mentiras sejam cada vez mais mal contadas. Analisando a questão de longe, e vendo esforços – pequenos, mas existentes – de países altamente poluidores como a China na direção do desenvolvimento de tecnologias limpas e eficientes, tais executivos e lobistas devem temer um pouco quanto ao futuro deles, mesmo que ainda estejam assentados sobre montanhas inimagináveis de dinheiro.

Mas a guerra na direção da eficiência energética – e só consigo chamar isso de guerra – ainda está começando a se encaminhar para seus passos finais. É como um Davi vs Golias, e o Golias começa a ver que suas pernas, mesmo que ainda sejam incrivelmente fortes, podem bambear. Ele se põe a xingar e ridicularizar o Davi que luta contra ele, mas em seu interior cresce um temor de que aquela pedrada pode ser certeira, e iniciar um processo que o jogue na lona – mais ou menos como a queda quase definitiva da indústria fonográfica. Com certeza o palco principal dessa guerra são os EUA. Por mais importante que seja o Brasil com seu etanol, a China com seu poderio econômico e a Europa com sua vasta influência política, se os EUA não tiverem iniciativas no sentido de ampliarem esforços para a adoção de energias limpas, a guerra estará perdida, e as tecnologias mais eficientes que a sujeira do petróleo jamais chegarão a se tornarem economicamente viáveis.

Mas, tenha certeza… é só questão de tempo para o Golias tomar uma pedrada certeira na cara, e cair no chão. Morto!

Think Progress [Via Treehugger]

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O @VozdoAlem é um dos perfís no Twitter que eu peguei para morar em meu coração . Amigo para todos os momentos, e ainda me dá ingresso para ir a #Cparty. Amo mais do que tudo =]

Daiane Santana

Daiane Santana é a idealizadora do Portal VivoVerde, nasceu em Minaçu/GO e atualmente reside em Parauapebas-PA e há 15 anos escrevo neste site. Sou formada em Engenharia Ambiental, pela UFT – Universidade Federal do Tocantins, pós-graduada em Gestão de Recursos Hídricos e Engenharia de Segurança do Trabalho. Atuo como consultora, ministro treinamentos nas áreas de meio ambiente, segurança do trabalho quando dá tempo. Contato: portalvivoverde@gmail.com | Twitter - @VivoVerde | Instagram: @DaianeVV | 063999990294

16 thoughts on “Petróleo: o maior bloqueio ao desenvolvimento de energias limpas

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  • Pingback: EcoZilla

  • 19 de janeiro de 2010 em 10:01
    Permalink

    Um pouco grande, mas interessante.

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  • 19 de janeiro de 2010 em 13:51
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    @murilo,

    Liga não, é de praxe do pessoal do NerdsSomosNozes.com escrever textos longos, porém assaz interessantes.

    Muito bom!

  • Pingback: Diego Cabral Camara

  • 19 de janeiro de 2010 em 17:01
    Permalink

    Ótimo texto, que nos leva a uma ótima reflexão sobre a sociedade em que vivemos. Uma sociedade com um sistema monetário que é levado mais a serio do que a própria continuidade e preservação da vida. Impedem o progresso tecnológico, social, intelectual e ambiental, para poder manter suas fontes de dinheiro sempre cheias e prosperas, esquecendo que eles mesmos também dependem e vivem neste planeta. E isso não é apenas ao petróleo, esta em diversos outros sistemas da atual sociedade doentia em que vivemos.

  • 20 de janeiro de 2010 em 22:17
    Permalink

    Realmente um texto grande, mais para quem se preocupa em saber a verdade sem maquiagem, quem realmente é quem da às cartas, um livro sobre o assunto ainda seria pouco…
    Mais para se ter uma idéia de que tamanho é esse “JOGO” sugiro que assistam a um filme… Chain Reaction (Reação em Cadeia) para ilustrar melhor esse excelente texto.

  • Pingback: Raphael

  • 28 de janeiro de 2010 em 16:00
    Permalink

    Interessante esse post…
    enquanto estava lendo lembrei de dois documentarios q mostram essa “guerra” que está sendo travada.

    O Verdade incoviniente com o Al Gore (muita gente jah deve ter visto) x A Grande farsa do aquecimento Global.

    ambos muito interessantes..porém a de se ter cuidado…

    abraços

  • 17 de maio de 2013 em 0:47
    Permalink

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