Propaganda, a Arma do Negócio

Certa vez li um livro que ensinava a praticar exercícios para o cérebro. Chamado de Neuróbica, o livro trazia mais de 80 exercícios diários e simples que criavam desafios, fazendo com que aumentasse as sinapses e com isso fortalecesse o sistema cerebral. Nos capítulos iniciais, o autor apresentava uma série de estudos que mostravam a atividade cerebral durante diferentes atividades. Segundo o autor, quanto mais os sentidos (tato, olfato, audição, paladar e visão) são utilizados, mais o cérebro se fortalece. Um dos gráficos de atividade cerebral apresentado, em que a pessoa assiste televisão, o cérebro praticamente vegeta. Essa inércia cerebral prejudica as sinapses que fazem com o nosso cérebro perca capacidade de processar, armazenar e produzir informações.

 

Pois bem, estava eu assistindo televisão. Na programação aberta, o que mais me interessa são as propagandas. Não pelo seu conteúdo, mas pela sua capacidade de tentar me vender tudo aquilo do qual eu não preciso. Fico impressionado com a capacidade de transformar futilidades em coisas praticamente imprescindíveis para a minha sobrevivência.

 

Um exemplo disso é a propaganda de escovas dentais. Não que uma escova dental não seja imprescindível, na verdade todos nós precisamos escovar os dentes, mas é impressionante como toda semana surge uma nova e incrível escova dental. Parece até que as empresas de higiene pessoal investem bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento para criar superescovas que limpam cada milímetro da minha boca. A impressão é que a escova da propaganda da semana passada é quase um instrumento rudimentar, utilizado por homens da caverna, em vista da Super, Ultra, Max escova dessa semana. No supermercado, encontro centenas de modelos de escova dental que variam de R$ 1,99 a R$ 13,00. Umas parecem ter sido desenvolvidas pela Nasa. Quanta tecnologia! O cabo da escova é ergométrico – poderia ficar segurando a escova por 15 horas seguidas que minha mão não sentiria nada – também é aderente – se ao invés de cerdas tivesse uma mini picareta de alpinista poderia escalar o Everest que não escorregaria da minha mão. Porém, independente da tecnologia, se eu não escovar os dentes de forma correta, nada disso ajudará. Ou seja, usando a melhor ou a pior escova, o que importa mesmo é como eu escovo meus dentes. E sabe por quê? Por que o que realmente interessa numa escova dental são as cerdas! Aqueles pelinhos na ponta da escova.

 

Bom, voltando a propaganda da escova, fico me perguntando: por que eu preciso sempre comprar toda a escova de dente (cabo e cerdas) se a única coisa que eu realmente gasto são as cerdas? Não poderia comprar apenas um refil, como existe para aparelhos de barbear? Esses cabos de escovas dentais são feito de Polietileno de alta densidade (PEAD), em outras palavras: Plástico! Podem durar séculos! E para quem não sabe, o plástico é um produto em que a principal matéria prima é o petróleo, um combustível fóssil não renovável e grande responsável pela emissão de gases poluentes. As empresas de higiene pessoal investem muito em tecnologia de produtos, mas a tecnologia que realmente precisamos (um refil, por exemplo) fica deixada de lado propositalmente, já que o cabo da escova agrega muito mais valor do que as cerdas. Além disso, a propaganda valoriza o cabo da escova, mostrando detalhes que nos fazem pensar que tal parte necessita realmente de alta tecnologia. Quem sabe seria mais útil que em cada propaganda dessem dicas de como escovar o dentes de forma mais eficiente, ao invés de nos entupirem com tanta futilidade tecnológica.

* Daniel Jung é professor da Fatec (Faculdade de Tecnologia de São Paulo) e trabalha em disciplinas voltadas para a área de Gestão Ambiental.

3 thoughts on “Propaganda, a Arma do Negócio

  • 24 de janeiro de 2012 em 9:01
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    Excelente artigo! Concordo em gênero, número e grau!

    TV emburrece… Tendo consciência disso, não tenho TV há pelo menos 6 anos e nunca me fez a menor falta…

    A propaganda e o marketing tem a função de, junto com a TV, emburrecer os consumidores e estimula-los a comprar o que não precisamos… A obsolescência programada é a mãe dessa estratégia: tudo é produzido para se tornar obsoleto rapidamente, ou mesmo ter pouca durabilidade.

    Sobre as escovas de dente, me incomoda o fato delas serem feitas de materiais não renováveis e não biodegradáveis… Por que as cerdas estragam tão rápido? Por que elas são feitas de plástico? Isso só é bom para as empresas que fabricam escovas, e olhe lá!

    Qual a saída? Alguém conhece uma escova de dente ecológica?

    Abs
    Gabriel

  • 24 de janeiro de 2012 em 20:15
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    Gabriel, obrigado pelo comentário.
    Fiz um visita aos meus pais no Paraná esse mês e como de custume fui ao Paraguai. Lá encontrei uma escova dental que permite trocar as cerdas. Você compra um refil com 2 cerdas novas e conserva o cabo da escova.

    É muito óbvio. Nas aulas, quando falo sobre a escova dental, os alunos sempre sugerem cerdas removíveis. A Pergunta então é a seguinte: Por que não nos oferecem essas escovas aqui no Brasil? Acho que a resposta também é óbvia.
    Um abraço.

  • 16 de agosto de 2012 em 20:34
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    e uma droga isto porraaaaaaaa

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