Um mergulho nas artes durante a 9ª edição do Festival Artes Vertentes

Balazs Borocz

Adotando todos os cuidados necessários e seguindo os protocolos de distanciamento social, a 9ª edição do Festival Internacional de Artes de Tiradentes – Artes Vertentes será realizada de 26 de novembro a 06 de dezembro de 2020, com uma programação de alto nível artístico nos campos da música, literatura, cinema, artes visuais e artes cênicas. Neste ano, excepcionalmente, o Festival apresentará sua programação para o público virtualmente.

“Respeitaremos rigorosamente as medidas de distanciamento no combate à circulação da Covid-19. O momento atual nos exige esta postura em respeito ao nosso público, aos artistas, aos profissionais envolvidos e aos moradores de Tiradentes”, afirma Maria Vragova, diretora executiva do Festival Artes Vertentes. “Julgamos, no entanto, essencial mantermos o elo com o município de Tiradentes mesmo neste momento virtual, pois foi neste território físico que o festival realizou as oito edições anteriores e se consolidou como um festival interartes
reconhecido em todo o país. Estamos convictos de que podemos continuar estimulando diálogos e manter a arte e a cultura vivas sem gerar aglomerações”, acrescenta. Desta forma, parte da programação acontecerá em Tiradentes e será transmitida ao vivo através do site e do canal YouTube do Festival Artes Vertentes. Toda a programação será gratuita.

Curadoria
Elemento inseparável do surgimento da vida na terra e de sua evolução, a água é o mote curatorial que alinha a programação da 9ª edição do Artes Vertentes. O curador do Festival, Gustavo Carvalho, explica como o tema será abordado: “passagem entre o reino da vida e da morte, do Velho ao Novo Mundo, território que permite infinita exploração, muitas vezes carregando em si a origem da vida e podendo penetrar os mais inóspitos territórios, a água é um documento tangível de nossa atividade. O H 2 O conta a nossa história. É um limite que marca a divisão entre ‘nós’ e ‘eles’; um obstáculo para aqueles que procuram abrigo de guerras e ditadores; um arquivo do antropoceno; um espelho das mudanças climáticas; um recurso comum pelo qual podemos matar. É um privilégio e um direito. É um desafio do qual depende a nossa vida”.

O tema já está presente no Ciclo Pororoca: o encontro das artes, prévia que o Festival vem levando ao público desde setembro. São encontros com artistas de diversas áreas que falam sobre seus trabalhos que, de alguma forma, dialogam com a água. Estes encontros acontecem semanalmente às terças-feiras, às 19h, com participação aberta ao público pelo Facebook e pelo canal YouTube do festival ( www.youtube.com/artesvertentes ).


Programação – Música
O Festival Artes Vertentes terá pré-estreia no Grande Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no dia 22 de novembro, às 19h, com um recital da soprano Eliane Coelho e do pianista Gustavo Carvalho, com canções de Richard Strauss e Hugo Wolff. Realizado em parceria com a Fundação Clóvis Salgado, o recital terá transmissão ao vivo através dos canais virtuais da Fundação Clóvis Salgado e do Festival Artes Vertentes.

A renomada cantora lírica, que já participou de diversas edições do Artes Vertentes, estará presente em três concertos da programação que acontecerá em Tiradentes a partir do dia 26 de novembro. Será uma oportunidade para o público conhecer obras pouco interpretadas do repertório vocal e camerístico na interpretação da soprano, tais como o trio Na correnteza (Aufdem Ström), do compositor Franz Schubert ou Harawi, de Olivier Messiaen. Composto em 1945, o compositor francês se inspirou na música andina e em textos quíchuas, fortemente
ligados à natureza.

A programação musical em Tiradentes é composta por 11 concertos de música clássica, transmitidos ao vivo, às 20h30, da Igreja Nossa Senhora das Mercês pelo site e canal YouTube do Festival. O repertório será constituído por obras inspiradas em estreito diálogo com a Água, ou por obras de compositores cuja escrita nos remete a este elemento, por meio das suas sonoridades. A programação musical fará, ainda, uma homenagem ao compositor brasileiro Almeida Prado, por ocasião dos 10 anos de sua morte que tem uma importante fase criativa ligada às questões ambientais.

Cristian Budu participará pela primeira vez do Festival. Ele venceu o renomado Concurso Internacional Clara Haskil, a mais importante conquista de um pianista brasileiro nos últimos 25 anos. Em Tiradentes, o jovem pianista brasileiro apresentará obras do repertório pianístico e camerístico, entre as quais se destacam os Prelúdios de Frédéric Chopin. A programação conta, ainda, com a participação de diversos músicos da Orquestra Filarmônica de
Minas Gerais, como a trompetista americana Alma Liebrecht, a flautista Cássia Renata Lima e o violista russo Mikhail Bugaev, além da violoncelista americana Elise Pittenger.


Programação – Artistas em residência

A 9ª edição do Festival Artes Vertentes conta com três artistas em residência: dois artistas e um escritor. A premiada ilustradora mineira Marilda Castanha desenvolverá um trabalho em torno do Cobra Norato, personagem que habita o folclore da região norte do Brasil. Durante a sua residência artística, a artista visual trabalhará com as crianças e adolescentes que participam da Ação Cultural desenvolvida pelo Festival Artes Vertentes em Tiradentes. O resultado desta residência será desenvolvido sob a forma de uma instalação em site specific e apresentado durante a edição do Festival em 2021.

O francês François Andes, que tem o rio e a floresta como principais protagonistas no trabalho isual que vem desenvolvendo nos últimos anos, utilizando o desenho como linguagem principal, é o segundo artista convidado como artista em residência. Durante a sua estada em Tiradentes, ele trabalhará um conjunto de desenhos inéditos inspirado no Rio das Mortes. “A ideia é fomentar a criação de um trabalho inédito, levando em consideração todos os aspectos geográficos, históricos e simbólicos do rio, assim como a presença da água no entorno de Tiradentes.

Do importante papel que este curso fluvial exerceu durante a Guerra dos Emboabas à importante biodiversidade de libélulas existente em Tiradentes”, aponta o curador do festival. François Andes conduzirá também uma oficina de confecção de máscaras inspiradas em figuras mitológicas relacionadas à água junto aos alunos da Ação Cultural do
Festival Artes Vertentes, além de trabalhar com um grupo de bordadeiras e costureiras de Tiradentes.

O poeta, escritor e tradutor Guilherme Gontijo Flores, vencedor do prêmio Jabuti e APCA, será o autor em residência do Festival Artes Vertentes. Assim como François Andes, o poeta terá o Rio das Mortes como ponto de partida para desenvolver uma série de textos inéditos. Estes textos serão apresentados ao público no decorrer da programação sob a forma de leituras e performances literárias. Guilherme Gontijo Flores ministrará, ainda, um workshop de literatura ligado à temática do festival para alunos de universidades públicas brasileiras e para jovens escritores (vagas limitadas).

Lucimélia Romão, performer e artista visual.

Programação – Artes Cênicas/Artes Visuais
Nas artes cênicas, será apresentada a performance-instalação MIL LITROS DE PRETO, da performer e artista visual Lucimélia Romão. Impulsionada pelas notícias diárias de mortes da juventude negra, a artista aborda a água contida no corpo humano, denunciando também a violência policial praticada contra a população negra nos centros urbanos brasileiros. A performance será realizada em Tiradentes durante 8 dias do festival e será transmitida ao
público virtualmente. 

Ailton Krenak – ativista indígena dos direitos humanos.


Programação – Literatura
Ailton Krenak – ativista indígena dos direitos humanos, que nasceu em 1953, no Vale do rio Doce, Minas Gerais, e pertence á etnia Krenak – vai abrir o Festival, no dia 26, às 17h. Krenak falará sobre o tema ‘água que somos’, que faz parte da série de 11 debates do ‘Ciclo Pororoca’ – ciclo de ideias, em torno do mote curatorial ‘água’. O importante escritor e biólogo moçambicano Mia Couto é outro destaque da vertentes literatura deste ano. Ele também vai participar do ‘Ciclo Pororoca’, no dia 1 de dezembro, às 17h. Este ciclo acontecerá em todos os dias do FAV 2020, sempre às 17h, ao vivo, e poderá ser assistido pelo canal do Youtube do Festival. Mia vai debater como a água está presente em sua obra e, sobretudo, as questões ligadas ao H 2 O em Moçambique no passado recente, as
atitudes humanas em relação à água, entre outras questões. 

A premiada ilustradora mineira Marilda Castanha, uma das artistas em residência, também é um nome importante na literatura. Outro artista em residência, que é destaque no meio literário, é o poeta, escritor e tradutor Guilherme Gontijo Flores, vencedor do prêmio Jabuti e APCA. Entre outros artistas.

Programação – Cinema
A programação de cinema apresenta diversos filmes nacionais e internacionais, em uma programação dividida em cinema de ficção, cinema documental e cinema de animação. A programação estará disponível para o público através das plataformas virtuais do festival. Pela primeira vez será apresentado no Brasil o filme “A despedida”, dos renomados cineastas russos Larissa Shepitko e Elém Klimov. O filme conta como a população de uma aldeia russa
deve deixa-la, devido à construção de uma usina hidrelétrica. A programação de cinema contará também com debates com diretores, atores e críticos de cinema brasileiros e estrangeiros.

Qual história o Festival quer contar através do H 2 O .Além da programação artística, o festival atua como uma plataforma de diálogos e intercâmbio entre artistas das diversas áreas e entre as culturas que se encontram em Tiradentes durante os 11 dias de programação do Artes Vertentes.

A 9ª edição cotará com uma série de 11 debates, palestras e mesas-redondas em torno do mote curatorial H 2 O com a participação de artistas de diversas linguagens, pesquisadores, cientistas e ativistas, além de representantes dos povos originários e ribeirinhos. Entre os participantes, o pensador, escritor e líder indígena Ailton Krenak, o cineasta Eder Santos, o compositor Roberto Victório, o artista visual cubano Nelson Ramírez Arellano e o crítico de
cinema russo Anton Dolin. A programação do Festival Artes Vertentes será conduzida pelo escritor, tradutor, jornalista e crítico musical Irineu Franco Perpétuo e transmitida ao vivo desde o Sobrado Aimorés, casarão antigo no centro histórico de Tiradentes.

Ação Cultural Artes Vertentes
Desde 2013, o Festival vai além dos onze dias da programação de cada edição. De fevereiro ao início de dezembro, ele promove a Ação Cultural, oferecendo gratuitamente a crianças e adolescentes de Tiradentes aulas e atividades nas diversas linguagens artísticas desenvolvidas pelo projeto.

O objetivo é impactar na formação artístico-cultural de um grupo de crianças da periferia de Tiradentes, cidade histórica que, apesar de ter assistido a uma crescente ação especulativa em torno da indústria do turismo nos últimos 30 anos, não tinha uma ação sociocultural continuada em benefício da sua população mais carente.
De 2014 a 2020, cerca de 1000 crianças participaram de oficinas de música, artes visuais, artes cênicas e literatura, conduzidas por educadores de cada área e artistas participantes do festival. Parte da produção das crianças é apresentada durante a programação do Festival Artes Vertentes sob a forma de exposições, animações, concertos e espetáculos teatrais.

Em 2020, após o início da pandemia, com a necessidade de preservar a saúde e segurança de alunos e professores, o conteúdo das aulas e atividades foi rapidamente adaptado para o formato virtual. O sucesso desta adaptação fez com que o projeto se tornasse uma referência na região e o seu conteúdo passou a ser utilizado inclusive por escolas públicas da região do Campo das Vertentes.

“Acreditamos que o contato regular com a arte, em suas diversas linguagens e de maneira interdisciplinar, representa uma possibilidade de mudança na vida de crianças e jovens da região. Movidos por essa crença, temos um compromisso bastante forte com a continuidade da Ação Cultural”, afirma Gustavo Carvalho.

As transmissões serão ao vivo – debates de cinema, às 15h | “Ciclo Pororoca” – ciclo de ideias, s 17h | concertos de música, às 20h30. Programação completa no site.

Para mais informações: www.artesvertentes.com
Canal do Festival no YouTube: https://www.youtube.com/user/artesvertentes

Daiane Santana

Daiane Santana é a idealizadora do Portal VivoVerde, nasceu em Minaçu/GO e atualmente reside em Parauapebas-PA e há 15 anos escrevo neste site. Sou formada em Engenharia Ambiental, pela UFT – Universidade Federal do Tocantins, pós-graduada em Gestão de Recursos Hídricos e Engenharia de Segurança do Trabalho. Atuo como consultora, ministro treinamentos nas áreas de meio ambiente, segurança do trabalho quando dá tempo. Contato: portalvivoverde@gmail.com | Twitter - @VivoVerde | Instagram: @DaianeVV | 063999990294

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