Livro: 21 lições para o século 21
Livro: 21 lições para o século 21
Autor: Yuval Noah Harari
Editora: Companhia das Letras
Yuval Noah Harari é autor de “Sapiens” e “Homo Deus” e tornou-se um dos pensadores mais importantes da atualidade. No livro “21 lições para o século 21” retoma as abordagens feitas nas obras anteriores, porém com um enfoque atual e arriscando observações para o futuro da humanidade.
O livro, extremamente didático e de fácil leitura, vem dividido em 5 partes, que podem ser lidas da forma que o leitor desejar, não há um fio condutor linear.
I – O desafio tecnológico
II – O desafio político
III – Desespero e esperança
IV – Verdade
V – Resiliência
A obra, mais pessoal que as anteriores, traz as características da própria vida do autor para exemplificar o que ele diz como o fato de ser homossexual; morar em Israel e ser historiador. Este aspecto é um dos pontos fortes da obra.
Uma das maiores contribuições de Harari é ter demonstrado a distinção entre inteligência e consciência; algo muito importante de ser entendido em um século no qual o surgimento e estabelecimento de uma inteligência artificial (IA) superior ao ser humano será o maior evento deste planeta desde o surgimento da vida há alguns bilhões de anos.
Os 21 artigos presentes na obra, embora, claro, alicerçados pelo conhecimento enquanto historiador do autor, miram nas incertezas do presente e do futuro, em grande parte impactadas pela ascensão de posturas humanas que consideravam-se superadas como os fascismos e os nacionalismos que tantas mortes causaram no século passado. Tais inflamações ideológicas alastram-se pelo mundo e constituem, em grande parte, fundo de preocupação dos artigos do livro, assim como a revolução tecnológica do presente que tem sido também fonte de anseio e medo. Nesse sentido o autor procura jogar luzes argumentativas sobre tais preocupações ao passo que também não deixa de sugerir cenários sobre as décadas próximas e seus grandes desafios.
Dentre estes grandes desafios, Harari demonstra preocupação com a questão ambiental e o quadro grave que se tem pela frente e a disrupção tecnológica, esta, que aliás, tem produzido grandes choques de cultura e conhecimento ao mesmo tempo que, em seu viés mais negativo, tem levado a raça humana a uma total subserviência aos algoritmos.
O autor não traz uma receita mágica para solucionar os problemas, claro, mas aponta dados e reflexões que, aos abertos ao debate e dispostos a tentar compreender tudo que está a nossa volta (a compreensão às vezes assusta) podem colaborar para o enfrentamento deste futuro. A obra traz alertas e aponta possibilidades à frente, sejam sombrias, sejam maravilhosas, desde que a humanidade consiga lidar com tudo isso.
Trecho da Parte I, Lição 1. Desilusão
Da matança de mosquitos à matança de ideias
“No passado, adquirimos o poder de manipular o mundo a nossa volta e de remodelar o planeta inteiro, mas, como não compreendemos a complexidade da ecologia global, as mudanças que fizemos inadvertidamente comprometeram todo o sistema ecológico e agora enfrentamos um colapso ecológico. No século que vem a biotecnologia e a tecnologia da informação nos darão o poder de manipular o mundo dentro de nós e de nos remodelar, mas porque não compreendemos a complexidade de nossa própria mente as mudanças que faremos podem afetar nosso sistema mental de tal modo que ele também vai quebrar.
As revoluções em biotecnologia e tecnologia da informação são feitas por engenheiros, empresários e cientistas que têm pouca consciência das implicações políticas de suas decisões, e que certamente não representam ninguém. Parlamentares e partidos serão capazes de assumir essas questões? No momento, parece que não. O poder disruptivo da tecnologia nem chega a ser prioridade na agenda política.”