Sem fiscalização e manejo adequado, Araucária pode estar extinta nas próximas décadas

Presente na região Sul e em áreas elevadas do Sudeste, a Araucária tem influência cultural por causa de sua semente: o pinhão, que faz parte da culinária em festividades juninas

Colheita do pinhão é permitida somente a partir de 1º de abril. Curitiba, 17/03/2016. Foto: Mauro Scharnik/IAP

Nesta quarta-feira (24), comemora-se o Dia Nacional da Araucária, uma árvore ancestral do Brasil, mas que corre grandes riscos de extinção em razão do desmatamento e dos efeitos das mudanças climáticas. A Araucária é uma árvore encontrada majoritariamente na região Sul do País, em um ecossistema da Mata Atlântica conhecido como Floresta Ombrófila Mista. É a árvore-símbolo do Paraná, por isso também chamada de pinheiro-do-paraná, estado que, originalmente, concentrava a maior parte do ecossistema que abriga a espécie.

De acordo com o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, em 2019, o desmatamento no bioma cresceu 27,2%, perdendo um total de 14.500 hectares de floresta. Desse total, cerca de 24% foram nos estados do Paraná e de Santa Catarina, onde a madeira da Araucária ainda é usada ilegalmente para, por exemplo, abastecer de tábuas a construção civil. “Estima-se que hoje a Floresta com Araucárias ocupe menos de 3% de sua área original, o que a coloca em grande risco de ser extinta nas próximas décadas se não houver uma mudança por parte dos proprietários rurais, da iniciativa privada e do poder público na forma como exploram e cuidam desse que é um dos mais emblemáticos e ameaçados ambientes naturais do Brasil. Lembrando que o que está em jogo não é apenas uma espécie, mas todo um ecossistema com uma grande diversidade de plantas, como imbuias e canelas, e animais, como o papagaio-de-peito-roxo”, afirma Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

A preocupação com a situação das araucárias não é exagero. Em 2019, um artigo publicado na revista científica Global Change Biology ficou famoso por prever o fim das araucárias até 2070 se nenhuma estratégia de conservação for posta em prática para reverter o ritmo de destruição. O estudo, com participação de cientistas britânicos e brasileiros, explica que depois de sofrer ao longo do século 20 com o desmatamento descontrolado promovido por interesses econômicos, o ecossistema tem agora um cenário igualmente grave para o século 21: o aquecimento global. “A floresta ombrófila mista ocupa os extremos mais altos e frios da Mata Atlântica (temperatura anual média de 12-20 ºC, com frequentes geadas), condições que provavelmente serão cada vez mais raras no futuro próximo”, dizem os pesquisadores.

Por estar geograficamente localizada no Sul e em alguns pontos mais elevados do Sudeste brasileiro (além de pequenos trechos da Argentina e do Paraguai), a Araucária tem influência cultural nessa região por causa de sua semente: o pinhão, presença garantida em festividades juninas e comum nos cardápios de restaurantes e celebrações culinárias durante os meses de inverno. Famosa por sua copa em formato de candelabro, a Araucária pode chegar a 50 metros de altura e tem sua origem no período Jurássico de formação da Terra.

Colheita do pinhão é permitida somente a partir de 1º de abril. Curitiba, 17/03/2016. Foto: Mauro Scharnik/IAP

Floresta em pé

Para preservar a espécie e seu ecossistema, a Fundação Grupo Boticário e a Fundação CERTI mantêm o Araucária+, iniciativa que promove a conservação da Floresta com Araucárias por meio de um modelo de negócio que proporciona a inclusão socioeconômica de proprietários de áreas naturais em cadeias produtivas inovadoras. O objetivo da iniciativa é mostrar a importância socioeconômica da floresta em pé.

Por meio do Araucária+, proprietários de terra na área da floresta são estimulados a adotar práticas sustentáveis de manejo do solo e da vegetação, em especial quanto à colheita das sementes de pinhão e das folhas de erva-mate, que é uma planta nativa e existente dentro da Floresta com Araucárias. Entre as práticas acordadas com os proprietários estão a não retirada da totalidade do pinhão (garantindo uma parte para a alimentação da fauna nativa) e a retirada gradual do gado de áreas sensíveis, já, que pisoteia e compacta o solo, dificultando a germinação de sementes das espécies vegetais nativas, fundamental para a perpetuação do ecossistema.

Em relação ao manejo de erva-mate, a extração das folhas só pode acontecer fora do período de floração, que vai de setembro a dezembro, e as árvores precisam ficar com pelo menos 30% das folhas para que tenham condições de sobreviver. Em contrapartida, a iniciativa mobiliza sua rede para vender o pinhão e as folhas de mate para novos mercados que valorizam um produto de origem sustentável e que ajuda a conservar a biodiversidade.

Daiane Santana

Daiane Santana é a idealizadora do Portal VivoVerde, nasceu em Minaçu/GO e atualmente reside em Parauapebas-PA e há 15 anos escrevo neste site. Sou formada em Engenharia Ambiental, pela UFT – Universidade Federal do Tocantins, pós-graduada em Gestão de Recursos Hídricos e Engenharia de Segurança do Trabalho. Atuo como consultora, ministro treinamentos nas áreas de meio ambiente, segurança do trabalho quando dá tempo. Contato: portalvivoverde@gmail.com | Twitter - @VivoVerde | Instagram: @DaianeVV | 063999990294

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.