O artista não dá o peixe, ele ensina a pescar
As nações escrevem suas autobiografias em três manuscritos: o livro de seus feitos, o livro de suas palavras e o livro de suas artes. Não se pode entender nenhum desses livros sem ler os outros dois, mas, dos três, o único fidedigno é o último – John Ruskin
Pense rápido!
Qual a função da arte hoje? Arte e meio ambiente se relacionam? O que tem a ver uma coisa com a outra?
Difícil né?
Vejamos: O conceito do que é arte e sua importância muda bastante porque há muita inconsistência e subjetividade na aplicação do termo e o conceito varia com o tempo e de acordo com as várias culturas humanas.
No entanto, podemos dizer que a arte tem a proposta de transmitir conhecimento, seja para lembrarmos de acontecimentos importantes seja para despertar sentimentos (nem sempre positivos) nas pessoas. Pode ser que nem sempre as intenções sejam claras para o observador sobre as razões daquela obra de arte, no entanto ela geralmente busca passar a vivência e interpretação de mundo do artista.
O universo da arte é diverso e rico, e vai muito além dos tradicionais como pintura, escultura, arquitetura, música e literatura (apesar de esses serem de grande importância). A arte está em vários lugares, desde a ponta de um lápis até o corpo humano. A arte nos faz questionar, pensar e confrontar a nossa vida, nossa realidade e nosso mundo.
Tá, já entendi que a arte é importante, que faz a gente pensar, mas e o meio ambiente, onde entra nessa história?
Bom, a natureza costuma ser matéria prima e/ou fonte de inspiração em vários momentos da história. Veja só o caso dos impressionistas do século XIX com a obra Impressão: nascer do sol de Claude Monet. A luz e o movimento utilizando pinceladas soltas tornam-se o principal elemento da pintura nesse movimento, sendo que geralmente as telas eram pintadas ao ar livre para que o pintor pudesse capturar melhor as variações de cores da natureza. Ou seja, os artistas buscavam sua própria interpretação (ou impressão) de uma experiência importante a ser valorizada, geralmente na natureza.
Tá, mas e hoje?
Já concluímos que as manifestações artísticas são representações ou contestações oriundas das diversas culturas a partir de o que cada sociedade e cada época vive e pensa. Assim, nada mais contemporâneo do que a arte ser utilizada como ferramenta para ativismo ambiental ou o ativismo ambiental ser usado como matéria prima para a arte.
Se utilizando da característica de desafiar e enfrentar o público com informações de certa forma desagradáveis e difíceis de serem digeridas a arte tem a capacidade de transformar em experiência estética e sensibilização coisas que às vezes não vemos ( ou fingimos não ver), afinal, estatísticas e notícias são mais fáceis de ignorar do que sensações e sentimentos .
Quer ver um exemplo?
Veja essa obra do artista brasileiro Eduardo Srur, que produziu a intervenção urbana “Pintado” que navega sobre as águas poluídas do rio Pinheiros em São Paulo. Visto em diversos pontos da paisagem paulistana a obra resgata um pouco das cores e formas perdidas deste lugar antes da contaminação absoluta.
Segundo o artista, a obra consiste na representação plástica de um peixe de água doce nativo da região com mais de 30 metros de comprimento que fica instalado sobre uma plataforma de flutuação. A obra se desloca numa extensão de 18 quilômetros cruzando pontes e viadutos da metrópole sobre o esgoto a céu aberto. A noite, o Pintado ficam iluminado por energia solar ao lado da ciclovia do rio.
A obra contou ainda com uma mostra visual Peixaria, no 2º andar da estação de trem Pinheiros da CPTM. A instalação era composta por balcões de peixaria com esculturas feitas com lixo que remetem a espécies de peixe. Para Srur, o conceito da exposição é evidente e visa provocar a sociedade para um movimento de recuperação do rio Pinheiros e sua bacia hidrográfica.
Pintado – Eduardo Srur from Eduardo Srur on Vimeo.
Ficha técnica
Inflável, plataforma de flutuação e sistema de energia solar com leds.
38 x 12 x 7 metros
São Paulo, 2017