Por uma moda consciente
A moda faz parte do dia a dia de todos nós, e estar contra ela não o torna imune ao seu funcionamento. Seja nas roupas, decoração, arquitetura e até produtos culturais, como a série do momento, o sistema da moda é baseado na criação de desejo por um item, sua adoção por inovadores e entusiastas, a massificação do uso e sua desvalorização quando todas classes sociais já o adotaram. Enquanto isso, novos objetos de desejo já surgiram, mantendo esse ciclo infinito de compra-uso-descarte-compra-e por aí vai. Faz parte do humano querer mudar e aparentar para o outro de formas diferentes.
A pergunta central é: precisamos de tantas roupas assim? Até antes da era industrial, uma pessoa comum teve apenas três ou quatro conjuntos de roupas ao longo da vida, sendo um deles o que usou para a missa de domingo durante toda a vida, e que provavelmente foi herdada de um antepassado. Se a indústria da moda parasse de funcionar nesse momento, haveria roupas nos nossos armários para usarmos pelo resto da vida.
Pouco se fala disso, mas indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo, ficando atrás apenas da petrolífera. O componente principal da maioria das roupas que vestimos hoje é o poliéster, um derivado do petróleo que demora até 200 anos para decompor. Roupas de algodão não são menos agressivas, pois antes de chegarem até nossas casas, florestas foram derrubadas, pés de algodão plantados, muito veneno utilizado para defender a lavoura, e no processo de fabricação das roupas, bastante água e componentes químicos foram utilizados. E quando se fala da produção, os abusos não param, pois nessa indústria, trabalho infantil ou mão de obra escrava são mais comuns do que se imagina.
A proposta aqui é a de pensar mais e comprar menos. Se perguntar se precisa mesmo daquela peça, se faz sentido usar algo que está todo mundo usando e que daqui três meses ninguém quer mais. Os preços das grandes lojas de fast fashion são sedutores, sempre cabe no bolso mais uma blusinha. Comprar, usar pouco e doar tampouco é a solução, quando bazares de caridade estão com estoque cheios de peças que ninguém (nem quem não tem nada) quer.
Ansiedade, tristeza e necessidade de atenção são gatilhos para compras. É hora de usar o autoconhecimento, para não cair nas armadilhas do consumo, e quem sabe substituir aquela ida ao shopping por uma volta na natureza, um filme com amigos, ou outras opções mais gostosas e menos consumistas. Vale lembrar que moda é diferente de estilo, e quem sabe o próprio estilo não sai comprando o próximo hype só porque todo mundo tem.
E vale ficar de olho nas marcas de slow fashion (moda lenta) que adotam produção sustentável, com tecidos produzidos de forma orgânica ou artesanal e ciclos mais longos de substituição das peças. Vão ser peças mais caras, a resposta é sim em 90% dos casos, pois os preços praticados no fast fashion é absolutamente simbólico, pois a vida destruída ao longo do processo de produção não está a venda.
A proposta aqui é de reflexão, não encher os leitores de culpa. Nem sempre estaremos atentos à sedução da moda, mas precisamos começar por algum lugar.
Texto fantástico! Me despertou um olhar sobre mim mesmo que nem imaginava ser tão relevante, do ponto de vista ambiental. Já quero ler o próximo texto.